DE ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELOS
PERDIDO POR CEM É UM FILME QUE PARTILHA COM VERDES ANOS (1963), DE PAULO ROCHA, O SENTIMENTO DE DESORIENTAÇÃO DA JUVENTUDE DESLOCADA DO MEIO RURAL PARA UMA LISBOA À ÉPOCA.
TRATA-SE, POIS, DE UM RETRATO DE UMA GERAÇÃO REPRIMIDA SOCIALMENTE E SUJEITA AO ATRASO SOCIAL E ECONÓMICO DO NOSSO PAÍS. FACE A ESTA SITUAÇÃO, OS QUE VIVEM OS SEUS “VERDES ANOS” SÃO REPRESENTADOS NESTE FILME POR ARTUR, QUE TAL COMO FERDINAND GRIFFON EM PIERROT LE FOU (1965), DE JEAN-LUC GODARD – FILME QUE INSPIROU CERTAMENTE PERDIDO POR CEM, TAL COMO TODA A OBRA DO REALIZADOR INSPIROU OS FILMES E O TRABALHO DE ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELOS – VIVE O AGORA COM A MAIOR INTENSIDADE POSSÍVEL, NUM VERTIGINOSO CALDO DE INCERTEZA SOBRE O FUTURO.
TRÊS FILMES EXIBIDOS ESTE ANO NO CINECLUBE DE POMBAL – ESTE, O CERCO (1970) E O MAL-AMADO (1974) – SÃO EXEMPLOS DE FILMES PRODUZIDOS NUMA FASE TARDIA DA DITADURA FASCISTA EM PORTUGAL, E QUE, TALVEZ AO CONTRÁRIO DE FILMES EXIBIDOS NESTE CICLO COMO FOI O NAZARÉ (1952), DE MANUEL GUIMARÃES, SÃO FILMES QUE ATIVA E CONSCIENTEMENTE DESAFIAM OS LIMITES DO REGIME. SÃO PROVOCADORES NA MEDIDA EM QUE NELES HÁ ALGO QUE ATÉ NO PRÓPRIO CINEMA DE MANUEL GUIMARÃES JÁ EXISTIA, QUE ERA UMA REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE QUE ERA DESCONCERTANTE. DESCONCERTANTE, NÃO POR DIVAGAR MELODRAMATICAMENTE OU ROMANTICAMENTE SOBRE A DESGRAÇA DA CONDIÇÃO HUMANA, MAS SIM DESCONCERTANTE POR REVELAR ALGO VERDADEIRAMENTE REAL – NÃO NAS IMAGENS, PORQUE NUNCA O SÃO, MAS NAS IDEIAS QUE PERCORRIAM AS MENTES DO QUÊ E QUEM ESTES FILMES ESPELHAVAM.
É CINEMA CENSURADO PORQUE TAL COMO JEAN-LUC GODARD, VOLTANDO MAIS UMA VEZ A UM DOS GRANDES MESTRES DE ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELOS, UMA VEZ DISSE: “A FOTOGRAFIA É VERDADE. E O CINEMA É A VERDADE VINTE E QUATRO VEZES POR SEGUNDO. O CINEMA É A FRAUDE MAIS BELA DO MUNDO.”
RECORTES DA FOLHA DE SALA NR. 41 DO CINECLUBE DE POMBAL, 24/04/2024
120 DIAS DE CINEMA 